Notícia

Piraquara - Poema homenageia a cidade

Publicado em 27/03/2014 às 00:00

PIRAQUARA

um longo apito

entre os eucaliptos


largamos a bola


negro na névoa

surge o trem


cinquenta, sessenta, 

setenta vagões

sacodem as pedras

sacodem as portas

sacodem os ossos 

dos cães sarnentos

da cidade sonolenta


eu e você nos olhamos

rapidamente

esquecidos de zombar


as coisas graves do comércio

do mundo 

zunem sobre rodas:

cimento soja óleo calcáreo 

homens-máquina que não param

pra saudar meninos e bêbados

como o Emilio Rita

(ai! o Emilio Rita, que vergonha

do Emilio Rita quando o trem passa)

e lá se vai, e lá se foi

e não nos levou


o trem nunca para

em piraquara...


quarenta anos depois 

o dilema metálico se estende

em um poema

- lembra como a composição 

impunha o tempo,

lançava a distância?

lembra do eco em teu olhar?


o menino é a hora

o menino é o túnel

desse trem que apita 

homem adentro, vida afora...

Marcos Pamplona