um longo apito
entre os eucaliptos
surge o trem
setenta vagões
sacodem as pedras
sacodem as portas
sacodem os ossos
dos cães sarnentos
da cidade sonolenta
rapidamente
esquecidos de zombar
do mundo
zunem sobre rodas:
cimento soja óleo calcáreo
homens-máquina que não param
pra saudar meninos e bêbados
como o Emilio Rita
(ai! o Emilio Rita, que vergonha
do Emilio Rita quando o trem passa)
e lá se vai, e lá se foi
e não nos levou
em piraquara...
o dilema metálico se estende
em um poema
- lembra como a composição
impunha o tempo,
lançava a distância?
lembra do eco em teu olhar?
o menino é o túnel
desse trem que apita
homem adentro, vida afora...
Marcos Pamplona