Notícia

Piraquara entrega o novo Centro de Memória Ferroviária "João Tesserolli Junior"

Publicado em 08/12/2020 às 00:00

Nesta terça-feira, dia 08 de dezembro, a Prefeitura de Piraquara entregou o novo Centro de Memória Ferroviária "João Tesserolli Junior”. Criado em 2017, ele funcionou de forma provisória na Casa da Memória e agora conta com espaço exclusivo e estruturado. Em razão da pandemia ele funcionará de forma restrita no momento, mas será um centro dedicado a pesquisa e estudos dos alunos piraquarenses, além de um local de conservação da memória e do patrimônio ferroviário do município e do Paraná.  

O museu recebeu ambientação temática e conta com fotografias, objetos, instrumentos, documentos, utensílios e equipamentos de época utilizados pelos ferroviários que tiveram papel fundamental no povoamento e desenvolvimento de Piraquara. Toda a pesquisa, catálogo e registro das peças foi feita pela equipe da Casa da Memória Manoel Alves Pereira e a orientação visual foi desenvolvida pela Secretaria Municipal de Comunicação.

O acervo foi cedido pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que desde 2007 faz um inventário dos bens da antiga RFFSA (Rede Ferroviária Federal SA). As peças foram incorporadas no Sistema Pergamum Museus, fazendo parte do Sistema Paranaense de Museus e também existe uma parceria formalizada com o Centro de Memória Ferroviária da Lapa “Sebastião Pires Furiatti”, que tornou Piraquara município associado.

O Prefeito de Piraquara, Marcus Tesserolli, o Marquinhos, ressaltou a importância da criação de um espaço que resgata e preserva a memória ferroviária que é tão presente no município. “Os ferroviários fazem parte da origem de Piraquara e a história da ferrovia se mistura com a do município. A entrega do novo espaço homenageia todas as famílias de ferroviários que viveram esse período e que ainda vivem em nossa cidade”, destacou.
 
Já a Secretária de Cultura, Esporte e Lazer, Cristina Galerani, destacou o minucioso trabalho desenvolvido para a entrega do novo espaço. “A construção do centro ocorre desde 2016 com o resgate do acervo que o município recebeu do Iphan, catalogação e registro de todas as peças que foram inseridas no acervo do Museu Paranaense. Será um espaço de pesquisa e visitação que conserva essa tão rica história da rede ferroviária”, explicou.

Também participaram da entrega, o Vice-Prefeito, Josimar Fróes, o representante da família do homenageado, Jairo Tesserolli, o Coordenador do Centro de Memória Ferroviária da Lapa “Sebastião Pires Furiatti”, Márcio Aniz Assad, o Historiador, Kallil Assad, o Presidente do Conselho do Patrimônio Natural e Cultural de Piraquara, José Roberto Portela, servidores e poucos convidados.

Endereço: Avenida Getúlio Vargas, n° 74, Centro.

Homenagem

A escritora e moradora de Piraquara, Adélia Mária Woellner, integrante da Academia Paranaense de Letras, que também foi ferroviária, escreveu um texto sobre a criação do Centro de Memória Ferroviária de Piraquara. Ela também contribuiu com o acervo do espaço doando documentos que serão catalogados e disponibilizados para o acesso de todos.

João Tesserolli Junior

O Centro de Memória Ferroviária de Piraquara foi nominado “João Tesserolli Junior”, em homenagem a um personagem importante para o desenvolvimento ferroviário do Paraná, que ocupou diferentes funções na Rede de Viação Paraná Santa Catarina. O neto, Jairo Tesserolli, representou a família e recebeu uma placa de homenagem das mãos do Prefeito Marquinhos.

Segue o relato com a história de vida do homenageado prestado por familiares durante a criação do espaço provisório em 2017.

Piraquara, 07 de dezembro de 2017


JOÃO TESSEROLLI JÚNIOR, nasceu na localidade de Tamanduá (Município de Balsa Nova), em 1891. Faleceu em Curitiba em 1983, com 92 anos de idade. Foi o segundo filho do casal de italianos Giovanni e Domenica, oriundos de Rosá, Província de Vicenza, Itália.  Giovanni pai, migrou para o Brasil via Porto de Santos no ano de 1882. O seu nome foi aportuguesado para João. Veio da Europa motivado a trabalhar na construção da ‘Estrada de Ferro Paranaguá Curitiba’.

Interessante analisar as contradições da economia do Brasil no final do Século XIX, pois faltava tudo para uma nação desenvolvida e pujante como é hoje. João Tesserolli pai, também foi proprietário de um ‘Armazém de Secos e Molhados’, localizado no entrono da ‘Estação Ferroviária de Tamanduá’. Posteriormente o seu traçado foi alterado.

Fazendo um paralelo sociológico entre João Pai com o João Júnior em apenas uma geração. O João pai veio ao Brasil a trabalho, encontrou grandes dificuldades sem conhecer o idioma ou ter qualquer garantia para se estabelecer no novo mundo. Inicialmente veio só, apesar de já estar casado na Itália com Domenica Meneghetti Tesserolli.

Domingas, aportuguesaram seu nome, veio tempos depois já grávida de sua primogênita Maria Josephina. João Júnior trabalhou, estudou, enfrentando todas as limitações e carências possíveis para a época. Completou sua formação acadêmica na capital Curitiba. Foi na Estrada de Ferro que evoluiu, estudou, mostrou desempenho, galgando os principais cargos na organização, até tornar-se ‘Diretor Superintendente na Rede de Viação Paraná Santa Catarina’
.

João Júnior foi casado com Maria da Luz de Oliveira Franco, nascida em 1899 e falecida em Curitiba em 1978. O casal teve 9 filhos, Javert, Jahyra, Jobert, Joel, Jandyra, Jacy, Jomar, Jahyr e Jacyra. Recentemente concluimos a ‘Árvore Genealógica da Família Tesserolli’, hoje cadastrados quase mil perfis dos descendentes de Giovanni e Domenica. João Tesserolli Júnior, fonte de orgulho para todos os seus familiares e descendentes, por seu caráter e sólida formação moral.
   

Neste momento, cabe registrar um agradecimento especial ao Márcio Aniz Assad, amigo de longa data da família ‘Tesserolli’. Márcio, o incansável e visionário pioneiro pelo resgate da Memória Ferroviária no Paraná, todos aqui presentes, muito devem ao seu esforço. Não fosse ele por seu idealismo e entusiasmo, muito teria se perdido da memória ferroviária no Paraná nas brumas do tempo. 

Agradecimentos em nome da família de ‘João Tesserolli Júnior’, à Prefeitura de Piraquara e ao Prefeito Marcus Tesserolli, por intermédio da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer e Casa da Memória Manoel Alves Pereira, também por sua parceria com a Prefeitura da Lapa, através do ‘Centro da Memória Ferroviária Sebastião Pires Furiatti’, sob a coordenação de Márcio Aniz Assad.

NOSSO MUITO OBRIGADO

Lido por Joril Tesserolli, neto mais velho de João Tesserolli Júnior

Escrito por Luiz Roberto Bara Araújo, sobrinho-neto de João Tesserolli Júnior


TEXTO - Adélia Maria Woellner 

Museu Ferroviário – Piraquara

No livro infinito da vida, certamente há registros de todos os tempos.

Hoje, nós, que nascemos no século passado, a cada dia nos admiramos com as conquistas tecnológicas que, a cada minuto, nos são apresentadas. O dia a dia é modificado, as construções dispõem de máquinas, equipamentos, recursos, que facilitam ao homem observar, ao final, a beleza de sua criação.

Façamos uma viagem imaginária...

Começa o ano de 1800. Há sonhos e esperanças; há homens ousados, destemidos. Estes criaram o traçado que, outros, não menos atrevidos, aceitaram o desafio, ainda que precisassem dispor do seu esforço e, até, de sua vida. E assim foi o nascimento da estrada de ferro que rasgou o ventre da Serra do Mar, para nela deixar a cicatriz que, até hoje, é marca da vitória, da competência, da coragem, da força do homem.

Nada mais justo, portanto, que a trajetória, materiais, fotografias, documentos sejam trazidos ao conhecimento de todos, para que possam, ao menos, tentar avaliar o empenho e poder construtivo do homem que, com seu suor e sangue, resvalando em precipícios, suportando o perigo de ataques de animais, carregou, nas costas, pedras, dormentes e trilhos para permitir que o grito da Maria Fumaça rasgasse o ar das comunidades que se formavam, aos poucos, nascendo no meio da mata e que, hoje, resplandecem e, com orgulho, como Piraquara, apresentam o desenvolvimento que conseguiram alcançar com o destemor e dedicação de seus antepassados. 

Este é o presente (perto do Natal...) que este Museu, hoje, lhes oferece. Parabéns, portanto, ao Prefeito Marcus Tesserolli, à Secretária de Cultura, Cristina Galerani e a toda sua equipe que, bem sei, há anos vêm pesquisando, juntando fragmentos, organizando espaços para que, hoje, nesta bela Casa, também restaurada, possa oferecer, à população, este passeio pelos trilhos da memória.

Como preito de gratidão, cito uma afirmação que consta do livro “Uma Viagem de Cem 100 anos”, publicado em 1985, por ocasião do centenário do trecho Paranaguá-Curitiba. Assim diz:

“A obra de nossos antepassados ferroviários não se resume em frases, não se sintetiza em fórmulas. Excede ao nosso poder de avaliar e de exprimir, pois é gigantesca e incomensurável.”                                            

(Adélia Maria Woellner)

Imagens